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sexta-feira, 9 de abril de 2010

Capítulo 17 - A guerra é declarada

Estava claro que as brigas entre católicos e protestantes na Irlanda tinham um outro campo tão fértil quanto a religião: a política. Mais importante do que qualquer partido político no país era o temido IRA, o Exército Republicano Irlandês, que lutava contra o domínio britânico, em uma Irlanda divida entre o Norte (de domínio inglês) e o Sul (também conhecido como Eire) e que não sofria intervenção britânica. Mais do que uma questão eterna, os atentados e mortes sempre foram uma realidade de qualquer irlandês desde seu nascimento.
Por isso quando o grupo começou a compor os primeiros esboços de “Sunday Bloody Sunday” era natural que as mortes causadas pela religião e pela incompreensão de um país fosse um tema a ser abordado.
Um dos passos do grupo em direção à política aconteceu em Londres. Bono encontrou Garret Fitzgerald, então candidato ao cargo de primeiro ministro pelo Fini Gael (partido de centro-direita e que tinha o apoio dos trabalhadores), em um vôo para Dublin e se apresentou ao candidato. Garret não conhecia Bono, mas já sabia da fama que o U2 possuía em seu país. Os dois começaram uma amizade frutífera e foram fotografados juntos no desembarque. As fotos saíram nas primeiras páginas de vários jornais. Para sedimentar ainda mais essa amizade, Garret compareceu aos estúdios Widmill Lane com sua esposa Joan, durante o período em que o grupo gravava o disco. Mais fotos foram tiradas do encontro, aumentando a popularidade do candidato entre os jovens irlandeses. O U2 acabou sendo um excelente aliado e um belo marketing para a vitória de Garret, meses depois.
Mas as letras causaram alguns problemas para o grupo. Especula-se até hoje que a letra de “Sunday Bloody Sunday” sofreu mudanças por pressões do IRA e que o grupo teria até sido ameaçado pelos militantes. A letra começava com o verso “Não me fale dos direitos do IRA”, mas teria sido alterada para “Não posso acreditar nas notícias de hoje”. Bono ressalta que isso nunca foi verdade e explica que a canção nunca foi contra o Exército Republicano Irlandês. “Ela fala de um dia que os irlandeses nunca deve sem esquecer (o massacre em 1972, na cidade de Derry, quando trezes pessoas foram mortas), mas que não deveria mais acontecer. É exatamente isso que quero expressar quando digo ‘até quando deveremos cantar essa canção’. Quando nós a tocamos, sempre faço questão de ressaltar que não é uma canção de rebeldia com o intuito de causar polêmica. Eu gostaria de não cantar mais canções como ela, mas não posso fechar meus olhos perante os problemas.”
Embora nunca tenha sido planejada como single e nem conste na relação no site oficial do grupo, a verdade é que ela acabou sendo lançada nesse formato.
Uma das maneiras encontradas pelo grupo de mostrar sua reprovação aos conflitos era hastear uma bandeira branca no palco. “Eu nunca fui uma pessoa ‘territorial’ no sentido que ‘ah, como sou irlandês vou levar a bandeira de minha pátria ao palco’. Nós somos apenas um grupo de irlandeses e pronto! A escolha dela (bandeira branca) é exatamente essa, a de universalizar o nosso ideal, além de pedir uma trégua aos conflitos pelo mundo.”
Em War, Bono parece sussurrar a letra, um contraste marcante perto do volume e dinamismo das apresentações.
Ir contra as tendências, contra a moda e não saber mais o que é certo ou errado. Todas essas angústias foram levadas por Bono para a canção que serviu como segundo compacto do disco “Two Hearts Beat As One”. “Não sei de que lado estou/ Não sei (distinguir) minha direita da esquerda, ou o certo e o errado/ Dizem que sou tolo, você diz que não sou para você/ mas se eu for tolo para você, ah, aí será algo”.
Com esses versos e um sensacional clipe rodado em Paris, em que mostra a banda tocando em uma praça, enquanto Peter Rowen (ele mesmo, o próprio, o garoto) segue um equilibrista que anda pelas ruas da cidade, até uma corda bamba, ela tornou-se o segundo sucesso do disco.
A letra foi escrita por Bono durante sua lua-de-mel e curiosamente, foi pouco tocada em shows, apesar do ritmo contagiante.
Ali conta que quando ela e Bono partiram em lua-de-mel para a Jamaica, o cantor ficava repetindo “essa é minha última chance, essa é minha última chance”. A frase acabou inspirando e entrando em “Two Hearts Beat As One”. “Houve algumas noites em que quase o expulsei do quarto, por ficar compondo enquanto ele deveria dar mais atenção para mim. Mas como estávamos usando a casa de Chris Blackwell (presidente da Island Records), entendi um pouco a angústia dele. Mas em algumas noites...”
Se o U2 esperava um grande sucesso, ele veio plenamente com War. O novo trabalho rendeu rasgados elogios de todas as partes. Um Bill Graham empolgado chegou a dizer que a banda não tinha apenas um coração, mas quatro e que The Edge havia feito do disco um projeto tão peculiar seu que não era apenas um novo disco do U2. “Esse é um disco que captura toda a essência e a habilidade de The Edge. Eu não tenho dúvida em chamar War de a orquestra de The Edge.”
The Edge sempre refutou o elogio, mas disse que finalmente descobrira algumas utilidades nas lições de piano que teve quando criança, em parte por exigência de sua mãe.
“Eu sempre fui um pianista horrível, mas parece que soube encontrar algumas melodias compatíveis com a minha habilidade. Até minha mãe me elogiou, um fato raro. Mas acho que meu talento como guitarrista supera, de longe, o meu como tecladista. Para tristeza de minha mãe...”
Quando foi lançado em fevereiro de 1983, o grupo já estava na estrada. Com as boas vendagens e críticas aos seus pés, a banda resolveu colocar o novo repertório em teste. Os shows eram um sucesso, em parte pela postura totalmente diferente das bandas da época. Enquanto vários grupos investiam pesado em vídeos, imagens, o U2 saía pelo mundo, com o visual mais despojado possível, sem sintetizadores e dispostos a darem o maior show de rock que os fãs poderiam ter. Mas o dinheiro demorou muito para vir, em parte porque os lucros com as vendagens eram usados para pagar o que já haviam recebido adiantado para gravarem e promoverem os discos anteriores. Se o grupo queria dinheiro, precisaria trabalhar duro, porque os shows também eram financiados pela Island e pela agência Premier Talent, de Frank Barsalona.
Paul McGuinness percebeu que esta era a hora exata para o grupo se consolidar. A infra-estrutura começava a aumentar. Além de Joe O’Herlily e Dennis Sheehan, havia agora Steve Iredale, responsável por toda parte técnica de palco. E mais gente ainda seria contratada para dar todo o suporte para que o U2 crescesse.
Com Dennis sendo o chefe da turnê, Paul começou a pensar no próximo passo do grupo e em um novo disco. Paul acalentava um antigo sonho que era capturar o U2 ao vivo, em um vídeo, algo que mostrasse todo o potencial da banda, ao vivo. A outra preocupação era tentar renegociar o antigo contrato com a Island. Ele achava, e com razão, que as 50 mil libras de royalties que recebiam adiantados para produzirem um novo disco, era um orçamento bastante limitado. O problema é que ainda não sabia como poderia negociar um aumento.
Alguns shows marcaram o grupo, como o realizado em Dundee, no dia 26 de fevereiro, no Caird Hall para mais de 2500 pessoas. O concerto marca o fim de “Fire” no repertório do grupo. Os teatros de médio porte na América conseguiam lotação completa, rapidamente. O U2 começava a acontecer de verdade. Agora eles eram uma banda de primeiro porte e faziam parte da primeira divisão do rock.

agradecimento: www.beatrix.pro.br/mofo
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